O BRASIL PÓS-ELEIÇÕES
Dilma
venceu. Melhor ainda, Aécio perdeu; e, com isso, das terríveis medidas
neoliberais por ora ficamos livres. Venceu o Norte-Nordeste, a ala pobre do
Brasil. Quando li o nível de agressividade dos sulistas, sobretudo os bem
nutridos de São Paulo para baixo, chamando os nortistas e nordestinos com nomes
impublicáveis, humilhantes, por terem votado em Dilma, fiquei a pensar no tipo
de gente para quem o Aécio iria governar. Se ganhasse. Governaria para os que
consomem nas melhores cidades do Brasil e do mundo, para a “elite” econômica e
financeira do país e internacional. Para aqueles que não suportam os pobres, e
recusam qualquer medida para que o Brasil se livre da pobreza. O tal estado
mínimo. Segundo eles, melhor seria passar um traço dividindo o Brasil em norte
pobre e sul rico, conforme desejou, em nome de todos os sulistas aecistas, um
delegado que se tornou deputado.
Não estou
querendo, com essa observação, reforçar a divisão ideológica, muito menos o
desejo da separação territorial, geradas pelo debate político excessivamente
agressivo. Apenas afirmo que o norte-nordeste não votou em Dilma visando
afrontar o Sul. Mas eles se sentiram afrontados. Não souberam perder. Não
estavam contentes com os privilégios que já tinham. Queriam mais. E se esqueceram
de que somos todos irmãos, filhos de uma única nação, solidários entre si em
quaisquer dificuldades e nos acontecimentos históricos, em busca de uma pátria
única, unida.
A classe
média do país, depois de ter sido negligenciada pelo governo Dilma, livrou-se,
com a derrota de Aécio, de ter de carregar sozinha a nação inteira nos ombros,
com os impostos agravados, uma vez que os ricos empresários, reclamando que os
lucros eram poucos, iriam ser aliviados desses encargos. Como foi decidido na
convenção do PSDB, o seu governo iria privilegiar a “elite”
econômico-empresarial; em nome de um desenvolvimento, visto apenas sob o prisma
econômico-financeiro, dentro das regras desse maldito “mercado”, que, graças a
Deus, mesmo poderoso, não conseguiu emplacar seu candidato. Pobre classe média.
Subsiste como sanduíche: pressionada seja por governos populares de um lado,
seja por governos elitistas do outro. Impregnada pela influência da mídia
neoliberal, vota conservadoramente, pois se julga elite, mas não tem quem a abrigue,
qualquer que seja a ideologia do governo. E, de governo em governo, vai ficando
pobre.
A vitória
de Dilma não significou a vitória do povo brasileiro. Como eu deplorava no post
anterior, ela continuará refém do apoio do Congresso, mais precisamente, do
PMDB, para ter maioria que a permita governar. Na verdade, o PMDB é como um
camaleão, se adapta a qualquer ideologia, e, com isso, está sempre “a serviço”
do poder da vez. Mas, no fundo, é ele quem sempre governou ou permitiu
governar, é ele quem vem dando, desde há muitos governos, as cartas do baralho,
quem impõe as condições. E será, ainda, o PMDB, junto com partidos menores,
que, a partir de 2015, irão “apoiar” Dilma, e continuarão a impor sua vontade
ao País com seus DNA’s conservadores e corruptos. Infelizmente. Aos interesses
desses partidos é que será dada prioridade, não aos interesses do povo.
O novo
Congresso estará em 2015 dividido numa penca de partidos, mas todos com um só
objetivo: se darem bem. A base “aliada” do governo, com sua fúria de
cargos, poder e dinheiro, cobrará bem caro por qualquer apoio (como já ameaçou
o quase certo futuro presidente da câmara dos deputados). A farra, portanto, já
está programada. Por isso, a presidenta deverá se preparar para ficar a reboque
deles, desmoralizada com os acordos escabrosos que terá de fechar na busca de
uma governabilidade que a diminuirá e diminuirá o Brasil. Pior ainda que nesta
agonizante gestão.
A prova
disso já está sendo demonstrada. A reeleição não aumentou a força política de
Dilma, dada a pequena diferença com que foi eleita. Os partidos, mesmo no
âmbito do PT, se sentiram mais fortes que antes para impor suas vontades. A
Medida Provisória que instituía a Política Nacional de Participação Social, -
que estimula a participação de conselhos, movimentos sociais e da população em
ações do governo -, está para ser anulada no senado com a aprovação de um
projeto de lei, já vitorioso na câmara dos deputados, que a torna sem efeito. O
“aliado” presidente do senado (do PMDB) já disse que seguirá a decisão da
câmara, pois discorda da proposta de dividir o poder com o povo (cômica
situação, uma vez que é do povo que vem o poder deles).
Este
congresso não nos representa. Nem aquele que virá em 2015, pois, como previ,
mudaram os prenomes (os sobrenomes são os mesmos), mas não o espírito, a
cultura interna. Uma intervenção do povo nas decisões políticas faz-se
necessária, para que algumas migalhas de nossas necessidades reais nos sejam
dadas. Para que, enfim, algo possa mover-se, as coisas possam mudar. A Política
Nacional de Participação Social, se aprovada, nos abriria a possibilidade de se
fazer ouvir a voz do povo, a nossa voz. Mas o congresso rejeita a possível
intervenção dos cidadãos em suas decisões - embora já esteja prevista constitucionalmente
– pois crê que isso iria diminuir seu poder. Pois é justamente isto que
desejamos, que o seu poder seja cerceado, que esses “parlamentares” saibam que
não são os donos do Brasil, tal como pensam ser, mas seus servidores. Nós somos
os patrões. É preciso que eles experimentem o fato de não terem recebido um
cheque em branco dado pelo povo com o voto. Que eles não podem decidir ao seu
bel prazer, sobretudo quando são avaros em contemplar o povo necessitado de
tudo. Não temos que esperar uma legislatura inteira para exigir que eles nos
prestem contas. Pois que a origem do poder que têm se encontra naqueles que os
elegeram, e somente a estes devem servir, e não, às empresas e bancos que
financiaram suas caríssimas candidaturas, e não, aos interesses pessoais e dos
partidos, como sói acontecer.
Essa
política de participação nacional vai ser rejeitada. Que esperar, então, da
reforma política – a mais necessária das reformas neste momento – que o “novo”
congresso será constrangido pelas circunstâncias a fazer? Com certeza, esperará
a iniciativa do Planalto; e procurará realizar apenas uma “reforminha” de
maneira que fique tudo como antes, sem tocar em seus privilégios, sem alterar a
sua viciada filosofia de ação. E a presidenta nada poderá fazer, por mais que
lute. A não ser que nós, o povo, entremos decididamente nessa jogada,
esquecendo nossas diferenças, pois o bem comum está em jogo.
O povo
ignaro, mais uma vez, não deu governabilidade ao presidente. Não deu a chance
de ele revelar sua verdadeira face. Tudo continuará igualzinho, como sempre foi
no passado. Haverá esperanças para o povo brasileiro?
Temos que
nos mexer. Vamos à rua.