sexta-feira, 26 de setembro de 2014

BRASIL, TERRA DOS SEM PÁTRIA



ELEGER O QUE?

Estamos na época das propagandas políticas “gratuitas” nas rádios e canais de televisão, ocasiões para que os candidatos possam proclamar seu profundo amor existente em seus corações, pelos eleitores deste Brasil afora.

Bem sabemos que o Estado brasileiro possui graves lacunas que precisam ser consertadas ou até preenchidas, como, por exemplo, a reforma política, a meu ver, a mais urgente, entre outras importantes. Estamos no período eleitoral e vemos os candidatos à presidência da República prometendo mundos e fundos, sabendo que não poderão cumprir o prometido, pois seus belos programas de governo não dependem exclusivamente de sua vontade. O povo crê na onipotência do presidente da República porque não conhece a regra do jogo. Talvez por experiência do cargo, a presidenta Dilma mostra-se mais cautelosa nas promessas, uma vez que sabe muito bem que o poder da presidência é limitado. Na verdade, o maior poder da República é o Congresso Nacional. São eles, os deputados federais e senadores, que elegemos com a maior irresponsabilidade, que podem aprovar (ou rejeitar) as propostas de reforma que partem do poder executivo. 

Portanto, sem apoio da maioria do Congresso, o presidente nada pode fazer. É só recordar os projetos de leis úteis ao País apresentados pela própria  Dilma (recordemos a lei do meio ambiente) que foram rejeitados por deputados e senadores, ou aprovados, apenas parcialmente, para favorecer grandes grupos econômicos em detrimento dos interesses do povo, e, assim mesmo, somente em troca de gordas recompensas. Esses apoios comprados (um deles, de modo extraordinário, objeto do processo do “Mensalão”) é que vêm caracterizando a nossa frágil democracia desde sempre. No fim, por causa da ignorância do povo, o pobre presidente, qualquer presidente, é que se torna, sozinho, culpado pelo que há de errado no seu governo.

O governo Fernando Henrique foi um dos mais sortudos, pois, neoliberal, contou com a tradição direitista e conservadora de nosso Congresso e da bancada externa, a mídia. Mas nem por isso recebeu de graça o apoio às suas propostas. O PMDB, o grande parasita da política brasileira, estava ali para lhe dar o apoio que costuma oferecer costumeiramente a qualquer que seja o governo, em troca, como sempre, de uma gorda fatia de poder.

Como estes congressistas não têm nenhum compromisso com o programa partidário, eles agem segundo suas conveniências pessoais ou de grupos de interesses (as bancadas), e vivem das barganhas que podem fazer com o poder executivo, da maneira mais inescrupulosa possível, na base do dá cá, que eu dou lá, isto é, “só aprovo o projeto se me der algo em troca, pois o interesse do povo não está entre as minhas prioridades”. Mesmo nas campanhas eleitorais, esses candidatos fazem promessas pessoais que só poderão ser cumpridas se outros membros do seu partido e os dos outros estiverem de acordo com elas, porque sozinhos, não fazem verão. E esses outros não têm interesse nenhum em cumprir promessas feitas por concorrentes. Afinal, disputam os votos na mesma seara.

Considerando que o Congresso, despreza os programas partidários, e age por meio de bancadas, isto é, grupos de interesses que atendem, sobretudo, às grandes empresas que financiaram as campanhas eleitorais de seus membros, ou recebem recompensa pela aprovação de projetos do interesse delas, os eleitores, no fundo, só existem, não para serem servidos, mas para dar-lhes, sem nenhuma esperança, o único bem que têm: seu voto. Essa é a “democracia” brasileira.

Eles não nos representam. E nós continuamos apátridas, apesar de constar na carteira de identidade que somos brasileiros. A pátria, na história dos grandes países, foi uma conquista de seus habitantes, à custa de sangue, suor e lágrimas. Nós ainda não conquistamos a nossa. A que pensamos que temos, pertence aos políticos profissionais que se apossaram do poder, de maneira definitiva, de geração em geração, e, manipulando eleitores, agem como donos da terra. E isso vem funcionando, dada a imaturidade política do povo no Brasil. E os aqui nascidos, a fim de morar, crescer e procriar, têm de pagar cada vez mais caro para que seus “donos” enriqueçam mais e mais.

Como poderemos conquistar a nossa pátria, o nosso Brasil? Como poderemos, enfim, ser digna e verdadeiramente brasileiros? Indo para as ruas. Em massa, para que aqueles que pensam ser nossos donos tenham medo de nós, e comecem a aceitar que não estão sozinhos na posse desta terra. Pois nós somos a Força, nós somos o Poder que delegamos a eles, até agora, para nada. Vamos para a rua, não para reivindicar simples diminuição de preço de passagem, mas algo mais substancial. Vamos para a rua para reivindicar a nossa pátria. Exigir, por exemplo, que se acabe com a reeleição de deputados e senadores, para que não se transformem em políticos profissionais hereditários; acabar com o voto obrigatório, para que a ignorância política do povo, aliás, cuidadosamente conservada, não eleja os piores elementos da sociedade, dando-lhes enormes poderes que nunca saberão usar devidamente, se deixados entregues a si mesmos. Vamos convencê-los de que, ao elegê-los, não assinamos um cheque em branco. Vamos para a rua exigir coparticipação direta no governo do nosso país, de nosso estado, de nosso município. Eles não deveriam governar sozinhos, sem nossa vigilância e sem a possibilidade de retirar-lhes o mandato que lhes damos em caso de traição ao povo. Vamos para a rua para exigir total transparência das atividades desses políticos profissionais que aí estão.
 

O Brasil é onde vivemos. Embora o aluguel seja muito, muito caro, é aqui que moramos e pretendemos continuar a morar. Analisem, pois, cada candidato muito bem, seu passado, suas intenções, sua confiável adesão ao programa do partido, o próprio programa do partido. O ato de votar, apesar de solitário, tem enormes consequências sociais. Ali, cada um de nós não exprime apenas um interesse pessoal. Diante da urna estamos jogando o destino do povo de nossa nação, do nosso estado, do nosso município. Ali, cada um de nós está jogando o nosso próprio destino.

Desejo a todos que votem, e votem bem. E como votar bem não basta, tenham, depois, boa disposição para reivindicar na rua todo direito que os políticos se recusam a nos dar. E, com certeza, vão insistir em não nos dar.