ELEGER O QUE?
Estamos na época das
propagandas políticas “gratuitas” nas rádios e canais de televisão, ocasiões
para que os candidatos possam proclamar seu profundo amor existente em seus
corações, pelos eleitores deste Brasil afora.
Bem sabemos que o Estado
brasileiro possui graves lacunas que precisam ser consertadas ou até
preenchidas, como, por exemplo, a reforma política, a meu ver, a mais urgente,
entre outras importantes. Estamos no período eleitoral e vemos os candidatos à
presidência da República prometendo mundos e fundos, sabendo que não poderão
cumprir o prometido, pois seus belos programas de governo não dependem
exclusivamente de sua vontade. O povo crê na onipotência do presidente da
República porque não conhece a regra do jogo. Talvez por experiência do cargo,
a presidenta Dilma mostra-se mais cautelosa nas promessas, uma vez que sabe
muito bem que o poder da presidência é limitado. Na verdade, o maior poder da
República é o Congresso Nacional. São eles, os deputados federais e senadores,
que elegemos com a maior irresponsabilidade, que podem aprovar (ou rejeitar) as propostas de reforma que partem do poder
executivo.
Portanto, sem apoio da maioria do Congresso, o presidente nada pode
fazer. É só recordar os projetos de leis úteis ao País apresentados pela
própria Dilma (recordemos a lei do meio
ambiente) que foram rejeitados por deputados e senadores, ou aprovados, apenas
parcialmente, para favorecer grandes grupos econômicos em detrimento dos
interesses do povo, e, assim mesmo, somente em troca de gordas recompensas.
Esses apoios comprados (um deles, de modo extraordinário, objeto do processo do
“Mensalão”) é que vêm caracterizando a nossa frágil democracia desde sempre. No
fim, por causa da ignorância do povo, o pobre presidente, qualquer presidente, é que se torna,
sozinho, culpado pelo que há de errado no seu governo.
O governo Fernando Henrique
foi um dos mais sortudos, pois, neoliberal, contou com a tradição direitista e
conservadora de nosso Congresso e da bancada externa, a mídia. Mas nem por isso
recebeu de graça o apoio às suas propostas. O PMDB, o grande parasita da
política brasileira, estava ali para lhe dar o apoio que costuma oferecer
costumeiramente a qualquer que seja o governo, em troca, como sempre, de uma gorda
fatia de poder.
Como estes congressistas
não têm nenhum compromisso com o programa partidário, eles agem segundo suas
conveniências pessoais ou de grupos de interesses (as bancadas), e vivem das
barganhas que podem fazer com o poder executivo, da maneira mais inescrupulosa
possível, na base do dá cá, que eu dou lá, isto é, “só aprovo o projeto se me
der algo em troca, pois o interesse do povo não está entre as minhas
prioridades”. Mesmo nas campanhas eleitorais, esses candidatos fazem promessas pessoais
que só poderão ser cumpridas se outros membros do seu partido e os dos outros
estiverem de acordo com elas, porque sozinhos, não fazem verão. E esses outros
não têm interesse nenhum em cumprir promessas feitas por concorrentes. Afinal,
disputam os votos na mesma seara.
Considerando que o
Congresso, despreza os programas partidários, e age por meio de bancadas, isto
é, grupos de interesses que atendem, sobretudo, às grandes empresas que
financiaram as campanhas eleitorais de seus membros, ou recebem recompensa pela aprovação de
projetos do interesse delas, os eleitores, no fundo, só existem, não para serem
servidos, mas para dar-lhes, sem nenhuma esperança, o único bem que têm: seu
voto. Essa é a “democracia” brasileira.
Eles não nos representam.
E nós continuamos apátridas, apesar de constar na carteira de identidade que
somos brasileiros. A pátria, na história dos grandes países, foi uma conquista
de seus habitantes, à custa de sangue, suor e lágrimas. Nós ainda não
conquistamos a nossa. A que pensamos que temos, pertence aos políticos
profissionais que se apossaram do poder, de maneira definitiva, de geração em
geração, e, manipulando eleitores, agem como donos da terra. E isso vem funcionando, dada a imaturidade
política do povo no Brasil. E os aqui nascidos, a fim de morar, crescer e
procriar, têm de pagar cada vez mais caro para que seus “donos” enriqueçam mais
e mais.
Como poderemos conquistar
a nossa pátria, o nosso Brasil? Como poderemos, enfim, ser digna e
verdadeiramente brasileiros? Indo para as ruas. Em massa, para que aqueles que
pensam ser nossos donos tenham medo de nós, e comecem a aceitar que não estão
sozinhos na posse desta terra. Pois nós somos a Força, nós somos o Poder que
delegamos a eles, até agora, para nada. Vamos para a rua, não para reivindicar simples
diminuição de preço de passagem, mas algo mais substancial. Vamos para a rua
para reivindicar a nossa pátria. Exigir, por exemplo, que se acabe com a
reeleição de deputados e senadores, para que não se transformem em políticos
profissionais hereditários; acabar com o voto obrigatório, para que a
ignorância política do povo, aliás, cuidadosamente conservada, não eleja os
piores elementos da sociedade, dando-lhes enormes poderes que nunca saberão
usar devidamente, se deixados entregues a si mesmos. Vamos convencê-los de que,
ao elegê-los, não assinamos um cheque em branco. Vamos para a rua exigir
coparticipação direta no governo do nosso país, de nosso estado, de nosso
município. Eles não deveriam governar sozinhos, sem nossa vigilância e sem a
possibilidade de retirar-lhes o mandato que lhes damos em caso de traição ao
povo. Vamos para a rua para exigir total transparência das atividades desses
políticos profissionais que aí estão.
O Brasil é onde vivemos.
Embora o aluguel seja muito, muito caro, é aqui que moramos e pretendemos
continuar a morar. Analisem, pois, cada candidato muito bem, seu passado, suas intenções, sua confiável adesão ao programa do partido, o próprio programa do partido. O ato de votar, apesar de
solitário, tem enormes consequências sociais. Ali, cada um de nós não exprime
apenas um interesse pessoal. Diante da urna estamos jogando o destino do povo
de nossa nação, do nosso estado, do nosso município. Ali, cada um de nós está jogando
o nosso próprio destino.
Desejo a todos que votem, e votem bem. E como votar bem
não basta, tenham, depois, boa disposição para reivindicar na rua todo direito que os
políticos se recusam a nos dar. E, com certeza, vão insistir em não nos dar.
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